Governados ou governantes

Um erro fundamental de ocupantes de cargos eletivos é a dedicação exclusiva àqueles que o elegeram. Se esquecem de que, embora tenham sido escolhidos por apenas uma parcela da sociedade, eles estão lá para servir a todos. No entanto, há um erro mais sutil e de consequências igualmente graves: considerar que aquela parcela que os elegeram pensa exatamente como eles e aprova todas as suas ações. Isso é especialmente grave em cargos do executivo, que concentram em um único eleito os votos dos mais variados motivos.

Tanto eleitos quanto eleitores têm que manter em mente que eleições não são um cheque em branco assinado. Eleitos devem conquistar diariamente aqueles que o colocaram lá (e também os que não colocaram), agora não com propagandas e discursos vazios ou demagógicos, mas com atitude. Devem entender que aqueles que lhes deram seus votos não são uma massa homogênea com idéias e valores congruentes aos seus. Ele deve buscar conhecer e entender os anseios mais variados dispersos nessa massa e dar uma resposta positiva para eles. Do mesmo modo, eleitores não devem “lavar as mãos” e deixar rolar (ladeira acima ou ladeira abaixo), como se não tivesse mais responsabilidade sobre o bem público. A responsabilidade pelo apoio, pela cobrança e por se fazer ouvir é de todos, de quem votou no eleito, de quem votou nos derrotados e de quem se absteve. Colocar a culpa nos outros é a assunção da incapacidade de resolver seus próprios problemas e a abdicação do direito de tê-los resolvidos.

Isso não tem sido respeitado por nenhuma das partes e nos trouxe ao momento singular em que certos ocupantes de cargos públicos admitem haver “um afastamento entre a classe política e a sociedade”, mas ao mesmo tempo, esses mesmos “representantes do povo” que admitem não estar representando o povo não largam o osso (e não lhes têm o osso tomado).

Enquanto as pessoas não assumirem seus papéis, não adianta resmungar, xingar, perder amizades na Internet, invadir escolas, culpar x, y ou z. Porque a solução dos problemas está muito mais em ouvir do que em falar.

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